As comidas oferecidas aos Orixás são para reverenciá-los, não para alimentar a divindade

Para que realmente os Orixás recebam e fiquem satisfeitos com as oferendas alimentícias, popularmente chamadas de "comida de santo", é fundamental entender o significado e a essência da comida litúrgica. De fato, as divindades não comem a comida em si apresentada, mas sim, absorvem toda energia depositada desde o preparo, até ao momento da entrega. Este princípio resulta nos preceitos e fundamentos que permeiam a elaboração das comidas de  santo.

 É necessário dedicar amor desde a colheita a compra dos ingredientes. Antes de iniciar o preparo seu corpo e alma devem estar limpos. Faz-se necessário tomar um banho de folhas, vestir-se adequadamente com as indumentárias religiosas, entrando inteiramente no ambiente espiritual do terreiro.

Concentrar-se totalmente no preparo, emanando fé, amor e respeito, é o tempero que verdadeiramente contemplam as divindades. Por essa razão, no momento do preparo, seus pensamentos devem ser de doação, sempre com intuito de agradar aos Orixás. Para que não haja intervenções de energias não desejadas faz-se necessário o silêncio absoluto, que só pode ser quebrado por cânticos sagrados na intenção de homenagear a divindade. É exatamente por estes motivos que as cozinhas dos terreiros tradicionais de candomblé são extremamente restritas às pessoas da mais alta responsabilidade religiosa.

Estas cozinhas tradicionais...

 utilizam uma ampla variedade de recursos e equipamentos naturais como, fogão a lenha ou carvão, pilão para triturar alimentos, colheres de pau, pratos de barro dentre outros. Isto se faz necessários, pois quanto maior o uso de elementos extraídos diretamente da natureza, maior é a energia envolta no preparo. Além disto, dão um sabor inigualável às comidas típicas dos terreiros!

Contudo, além destes critérios, é fundamental o conhecimento das propriedades espirituais e enérgicas de cada ingrediente, assim como a sua associação particular com cada orixá. A citar como exemplo, um dos ingredientes oferecidos a Ode, divindade da caça, é o milho, mas não por acaso. Esta atribuição dá-se em virtude do milho representar no mundo espiritual a fartura, que esta associada diretamente a qualidades deste Orixá enquanto provedor de alimento. Assim por diante originou-se o complexo código da milenar, vasta e diversificada "comida de santo".

O segredo envolto ao preparo está ligado à preservação da energia contida na oferenda. Para não correr o risco de interferências de pensamentos ou o absorvimento de alguma força não desejada, os alimentos depois de prontos são imediatamente cobertos por uma toalha branca, protegendo também de sujeiras naturais. Esta tolha só é retirada no momento da apresentação da oferenda aos pés da divindade. Momento onde a comida sacralizada é oferecida, representado amor, respeito, carinho e devoção do (a) devoto (a) ao Orixá.